Como dois aficionados por carros antigos de luxo criaram a principal loja do gênero do Brasil
Com um acervo de mais de 200 raridades restauradas, a L’Art D’Automobile atrai colecionadores de luxo — e até a atenção da realeza espanhola.
Com um acervo de mais de 200 raridades restauradas, a L’Art D’Automobile atrai colecionadores de luxo — e até a atenção da realeza espanhola.
Por Vitor Matsubara/GQGlobo
Quem é fã de carros antigos entende por que alguns modelos se comparam a obras de arte. Fica fácil passar um bom tempo admirando cada detalhe. Assim, o nome L’Art D’Automobile combina com a loja paulistana que virou referência no antigomobilismo, a prática de colecionar e restaurar veículos vintage.
O negócio surgiu a partir do fascínio dos empresários Delso Calascibetta, 65, e Mauro Gaibar, 62, pelo universo dos automóveis. Porém, eles trilharam caminhos bastante distintos antes de se tornar sócios na L’Art, em 2009. Calascibetta trabalhou na agência de publicidade Young & Rubicam, foi dono de uma confecção e até importou colchões.
Sua primeira máquina antiga foi um Opala e a última, antes da loja, um Citroën 2CV Charleston vinho e preto. “Da fornada final, produzida há mais de trinta anos. Esse Citroën acumulava 700 quilômetros rodados e era muito bom de dirigir”, elogia Calascibetta.
Já Gaibar praticamente só se ocupou com sua paixão. “Tive um único emprego diferente, de 1978 a 1982, no ramo de confecção, e, mesmo assim, já mexia com carros. Depois, trabalhei apenas na área”, lembra. Em mais de quatro décadas como vendedor, ele viveu, por exemplo, a época de ouro da Alameda Barão de Limeira, no centro de São Paulo, tradicional ponto de comércio de veículos até os anos 80. “Fiquei tanto tempo nesse setor que vendi carros para três gerações da mesma família.”
Com a sociedade, a L’Art, que existia havia dois anos pelas mãos de Gaibar, migrou de um escritório na Avenida Nove de Julho para um showroom envidraçado na Avenida Hélio Pellegrino, na Vila Nova Conceição. “Nós procuramos trabalhar com o maior nível de excelência possível”, garante Gaibar. O estoque hoje conta com mais de 200 exemplares de diversas épocas, com preços que superam os milhões de reais. A dupla comercializa em média vinte veículos por mês. “O carro antigo tem uma valorização acima da média. Trata-se de uma bela aplicação”, diz.
Ao adquirir uma nova joia, a L’Art faz uma revitalização completa antes de passá-la para a frente. Aí entra em cena uma rede de parceiros especializados em serviços e até em determinadas marcas. Calascibetta gaba-se de frequentemente vender automóveis de “concurso”. O termo define exemplares raros, completamente originais ou reformados de modo a ficar melhores do que o padrão de fábrica. Ou seja, dignos de ganhar prêmios nos mais prestigiados concursos de carros antigos do mundo.
“Muitas tecnologias não existiam na época em que eles foram produzidos. As tintas não tinham a pigmentação de hoje e os vernizes eram tão primários que a pintura perdia o brilho rapidamente. Em uma restauração de alto nível, todos os parafusos, porcas e peças são de primeira qualidade e normalmente não eram utilizados por questões de custo”, diz.
Entre os tesouros que passaram pelo portfólio da L’Art, Calascibetta lembra com saudade de um Porsche 356 Carrera premiado nos Estados Unidos. “Ele conseguiu nota 98 no concurso, mas nenhum nunca chegou aos 100 pontos”, vangloria-se. Gaibar se orgulha de ter vendido um raríssimo Hispano-Suiza 30-40 HP Series. O modelo fabricado em 1911 (sim, há 114 anos) pertencia a um colecionador assassinado em 1975. Acabou esquecido nos fundos de uma oficina até ser restaurado e vendido pela L’Art.
O reluzente clássico integra o acervo do recém-inaugurado museu de automóveis antigos Carde, em Campos do Jordão, mas se viu muito perto de cruzar o Atlântico. Uma equipe do atual rei da Espanha, Felipe VI, quis comprar o veículo pela importância histórica. A Hispano-Suiza atuou como montadora local de alto luxo, e não existe um modelo da marca na coleção da realeza espanhola. “Eles mandaram uma oferta 50% acima do valor da compra, mas, felizmente, o museu não aceitou, e o carro permaneceu aqui”, conta Gaibar.
Hoje, os sócios da L’Art não precisam mais correr atrás de novidades para abrilhantar o estoque, pois os próprios donos procuram a loja. A dupla analisa pessoalmente o estado de conservação de cada peça. “Às vezes, precisamos explicar para o cliente que nem sempre o que é impecável para ele é para nós também”, afirma Gaibar. Calascibetta complementa: “Nessas horas, não podemos ser modestos. Viramos a única loja do Brasil que trabalha com carros desse nível”.
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